sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Artigo publicado na Revista RI Nº 136 Setembro 2009


Camuflado de novas oportunidades nunca antes vislumbradas, o quinto poder nasce de uma concentração ainda mais poderosa.

Se estamos discutindo que a condução da economia mundial não pode ficar na mão de poucos e se depois de muito penar, chegamos à conclusão de que necessitamos de um ambiente aberto e propenso ao diálogo, onde todos têm voz − e voz que deva ser ouvida −, o que devemos pensar sobre as grandes fusões e aquisições? Que mercado está se criando? Quem definirá os pontos fortes e fracos se a concorrência resolveu sentar na mesma mesa? Qual o poder de escolha dos consumidores nesse cenário?

Inicialmente, esses movimentos causam certo espanto por parecerem absurdos e impensáveis. Num segundo momento, deixando a euforia da valorização das ações, o que sobra é um mercado com pouca competitividade, concentração de tecnologia e muito poder de negociação diante dos fornecedores. Com isso, o papel da governança para a sustentabilidade traduz um sentimento que já era conhecido. É levado em consideração apenas o ganho de escala, o real posicionamento diante da crise e o inchaço financeiro. Porém, duas palavras mágicas que são essenciais à longevidade das organizações deveriam ser levadas em consideração: cultura e gestão.

No que diz respeito à cultura, na construção das marcas, a inércia ou a passividade também são produtivas. Ao mesmo tempo em que, às vezes, as empresas não deixam claro qual o seu posicionamento − que reflita o que são e o que querem ser −, os públicos conseguem basear suas escolhas naquilo que se aproxima do seu modo de agir. Ou seja, não há nenhuma empresa, em um processo de mediação com seus públicos, que consiga passar despercebida de um sentimento sobre sua marca. Confiança e fidelidade só se alcançam com anos de trabalho planejado e muito fôlego. Com a união de dois dos principais players do mercado, algo que me fazia optar por um deixou de existir, pelo simples fato de que minha opção resolveu optar pela minha não opção. Isso deixa um vazio enorme. Minha marca sumiu. Virou “aquela” ou uma outra. Uma, duas.

De maneira pragmática, uma particularidade do mundo moderno me deixa apreensivo. Há um total distanciamento do terreno, do sólido, uma desfragmentação da cultura que, se exercida pelas empresas, causa uma total perda de sentidos nos seus públicos de interesse. Como posso considerar o outro se o outro agora sou eu? A cultura não é importante em momentos de fusões e aquisições, ela é secundária e sequer é levada em consideração. Não me surpreenderia se daqui a algum tempo nos chegasse a notícia de que, por exemplo, houve a fusão de dois times rivais de futebol. Um tricolor de preto, branco e verde.

Outro enfoque importante para as organizações é uma gestão clara, transparente e que não se distancia de seus direcionadores. Missão, visão e valores são como o DNA. Cada empresa deveria ter o seu e, se ele cabe no outro, é porque vem do mercado. Uma gestão voltada para a sustentabilidade e que pratica movimentos como esses que estamos assistindo deveria considerar que, das cem maiores entidades econômicas do mundo, 51 são empresas. Durante o ápice da crise financeira e com a necessidade de restabelecer o sistema, será que levamos em consideração os princípios da governança e da sustentabilidade?

Ao buscar a mudança de patamar para alcançar objetivos bem mais robustos, o que se considera é uma união que trará a possibilidade de atingir tal tamanho a ponto de criar um buraco negro entres os concorrentes locais. Não me parece possível convergir duas gigantes para uma mesma maneira de condução do negócio. O que antes era água e óleo agora se funde num processo que nem a química consegue explicar. Cultura e gestão são os alicerces de uma companhia. Se construídos levando em consideração os princípios da governança corporativa e da sustentabilidade, com visão de longo prazo, devem abarcar todos os processos de condução do negócio. Ao aprovar esses movimentos, deveriam ser incluídos nas análises aspectos como cultura e gestão e, por parte das empresas, uma consulta entre seus funcionários e consumidores seria recomendada.

Do ponto de vista macro, outras crises virão, com certeza. No futuro, se esses movimentos forem consolidadores desse novo cenário, devemos guardar a memória da solução da crise atual, para servir de pílula de farinha para as que estarão por vir. A construção de um cenário global mais equilibrado não se sustentará com fusões e aquisições entre grandes grupos empresariais. Mais poder, concentração e menos equilíbrio é tudo que não necessitamos nesse momento e nem em cenários futuros.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

quarta-feira, 18 de março de 2009

Artigo publicado na Revista Apimec Out/Nov/Dez 2008



Os reflexos da crise estadunidense e a sustentabilidade
A lógica segundo a qual devemos diversificar os investimentos para diminuir os riscos,com a última crise, nos mostra que não temos opções disponíveis

Os especialistas em investimento nos ensinam que a melhor maneira de diminuir os riscos é não colocar todos os ovos na mesma cesta. E isso tem certa lógica.

Num mundo onde tudo é globalizado, se faz necessário a busca da maximização dos lucros operando em diversos setores e mercados. O que nem todos sabem é que as perdas também são globalizadas e a sustentabilidade é um fator preponderante para manter o equilíbrio nos momentos de crise.

A crise que estamos passando nos dá uma noção exata de quanto o mundo ainda é dependente do mercado estadunidense. Essa crise financeira e do sistema como um todo, o que é mais preocupante, reforça que não podemos ter um único país ditando as regras.

Caso o mundo quisesse entrar na Bolsa, teríamos que criar uma categoria de Nível Zero de governança corporativa e sustentabilidade. A supremacia do mercado estadunidense não exige mais respeito. Quando essa crise passar, devemos assumir uma postura de enfrentamento e cobrar, sobretudo, transparência daquele que ainda é o acionista controlador do mundo. Para não enfrentarmos outra crise dessa envergadura, é necessário todos os países adotarem postura proativa nas questões que envolvem todas as economias. Com o pensamento na longevidade das nações, a sustentabilidade e a governança são fundamentais para efetivação dessa postura.

Antes de diversificar os investimentos, devemos pulverizar as responsabilidades pela condução da economia global e não deixar na mão de 435 parlamentares estadunidenses a decisão de salvar o mundo.

Porém, uma nova ordem mundial está nascendo. Novos atores estão surgindo num cenário onde a preocupação com a sociedade e o futuro sustentável provavelmente serão os balizadores de nossas atitudes. Essa deverá ser a regra de condução do mundo que está para nascer, onde o ambiente deverá ser mais aberto ao diálogo.

Essa crise sistêmica servirá para darmos espaço a novas idéias boas e coletivas do ponto de vista de suas realizações. Deixaremos de lado velhos modelos que já não servem mais para aplicação num mundo onde as atitudes de um único indivíduo refletem no coletivo.

Acreditamos que o crescimento socioeconômico seja a base do desenvolvimento sustentável. Um cenário de incertezas deixa distante a idéia da criação de um ambiente favorável para a sustentabilidade, mas é nesses momentos que a convicção das companhias em seus princípios e valores é a guardiã de sua sobrevivência no mercado.

O Fim do mundo
O mundo não acabou e não vai acabar com essa crise. A história mostra que o mundo em certo espaço de tempo se reconstrói. Esse é o momento de começarmos a criação de uma nova era com uma visão mais abrangente.

Abandonemos a idéia de fim para concentrarmos nossas forças em um novo começo, tendo como pilares a governança corporativa e a sustentabilidade.