terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Os Equívocos de António Damásio

Tentarei dialogar com algumas idéias do livro: O Erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano. Esse livro foi objeto de estudo do Grupo de Pesquisa: Comunicação e Epistemologia da Compreensão.

António Damásio ilustra o fato de que as emoções são indispensáveis para a nossa vida racional e brinca com o título propondo que tudo que se produziu acerca das experiências de Descartes pode se dizer que foi um erro.

“São as emoções que nos fazem únicos, e é o nosso comportamento emocional que nos diferencia uns dos outros.”

Seria essa a explicação para o fenômeno do surgimento de grupos que se propõem a serem diferentes, mas internamente continuam sendo iguais entre si? O que existe na verdade é uma única individualidade coletiva que move a todos.

“Foi Descartes que possibilitou ao homem chegar à lua, mas também levou à fragmentação característica das especializações nos nossos meios acadêmicos e no pensamento em geral.”

Descartes ao revelar o método científico expôs, na verdade, a nossa forma de pensar, de estruturar e de lidar com o mundo. Ele não consideraria a emoção na produção científica por que ela seria a esteira que conduziria o modo como empregaríamos esse fazer científico.

Tenho sérias dúvidas se chegar à lua foi algo extraordinário para a humanidade. Chegamos até a pensar que iríamos trabalhar menos com a chegada do computador. O homem, de posse da ciência e tecnologia construiu mecanismos de destruição em massa e, não se esqueçam que antes da vacina, criamos a doença. Não foram essas, e há outros exemplos, as melhores formas de utilizarmos o que Descartes propôs. Consideramos que parte do cérebro para construirmos um mundo completamente desequilibrado de todos os pontos de vista?

Quanto à fragmentação das especializações nos nossos meios acadêmicos confesso que não compreendo o que Damásio quer dizer com nossos meios acadêmicos, visto que esse é um espaço completamente distante da maioria. Porém, concordo com ele que há algum problema nisso, mas acho que ele decorre da nossa necessidade, que não mora na razão, de agregarmos saberes que antes nunca haviam sequer sido colocados em paralelo e, muito menos numa mesma disciplina. Parece-me que é nesse caminho que mora a idéia de um saber líquido e disforme, na tentativa de alcançarmos uma posição privilegiada em relação a uma audiência maior.

Acho também que vivemos num mundo essencialmente de práticas em que o produzir não deixa tempo para teorizações. Por isso, há uma necessidade sufocante no mercado de trabalho de interrelacionar disciplinas, criando outras tantas.

O meio acadêmico tenta apenas atender a essa demanda. Com relação aos cursos de comunicação social, até meados dos anos 80 havia apenas 6 habilitações no curso de comunicação social. Hoje, quantos foram os temas e cursos que surgiram e que tratam desse tema? Há ainda uma gama enorme de possibilidades que devem surgir nesse campo com o surgimento da internet e de novas formas de comunicação.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Artigo publicado na Revista RI Nº 127 Novembro 2008



Qual o melhor modelo de comunicação da Sustentabilidade?
A temática da sustentabilidade não é complexa porque envolve diferentes interesses, mas sim porque os temas são urgentes ao mesmo tempo.

Devemos ter o olhar de quem nasce em meio a revoluções tecnológicas e preocupações que vão além de um modelo de desenvolvimento, baseado apenas no retorno econômico. Essa premissa deve nos ajudar a questionar e buscar um modelo próprio de comunicação da sustentabilidade, já que o tema exige diálogo permanente em pé de igualdade com todos os setores da sociedade.

Avaliar a eficácia da comunicação da sustentabilidade nos obriga a determinar o quanto esse tema é relevante para a sobrevivência das organizações. Imagino que a maioria delas tenha apenas a noção de que se o concorrente faz, também devam fazer. Com relação à sustentabilidade, não querem ficar atrás de seus concorrentes nem quando erram conceitualmente na apresentação de seu desempenho e envolvimento em questões socioambientais, e ainda menos quando acertam. A impressão é a de que devem apresentar “alguma coisa”, afirmar que têm uma política de responsabilidade socioambiental, apesar de nem poderem comprovar consistência do seu discurso, e menos ainda de suas ações.

Uma questão que chama atenção é como as empresas tratam da sustentabilidade em sua estrutura interna. Algumas entendem que o melhor é que a sustentabilidade seja competência dos departamentos de relações com investidores; outras com o de comunicação, e outras ainda acham que o melhor é ter um departamento específico. Em minha opinião, a área de comunicação tem como princípio básico o diálogo constante com todos os públicos estratégicos da companhia. Ela pensa, junto com o marketing, como a marca e a imagem devem ser transmitidas para dentro e fora da companhia. E isso também envolve os princípios de sustentabilidade.

Alguém já se perguntou se o melhor modelo de comunicação da sustentabilidade são os relatórios que, em sua maioria, são publicados uma vez por ano? Seria a internet o melhor caminho para a comunicação da sustentabilidade? Se me perguntassem ainda se devem ou não divulgar o relatório de sustentabilidade no intervalo do Jornal Nacional, não saberia responder. De início, é um exercício gigantesco de síntese conseguir colocar todas as questões que envolvem a sustentabilidade, todas as facetas da inserção de uma organização na sociedade em seus aspectos econômico-financeiros, socioambientais, num único relatório de, por exemplo, 80 páginas.

Daremos um passo atrás para tentar criar um modelo que talvez nem exista hoje, mas ele será criado e pensado a partir da ótica que desejamos comunicar. A cópia fiel de modelos presentes no mercado só reflete a nossa surpresa com o surgimento dessa temática.

Não acredito num modelo único que sirva para todas as empresas, mas levanto a idéia de que temos de pensar de maneira nova sobre a comunicação da sustentabilidade e estar abertos para novas possibilidades.

Assim, pensaremos criativamente sobre o tema.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Reflexões sobre a reunião do Grupo de Pesquisa: Comunicação e Epistemologia da Compreensão

Epistemologia é a forma de pensar dialogicamente, sem a pretensão de se alcançar uma síntese, que rompe com a necessidade de pontos finais.

É possível pensar sobre essa forma de pensar e encontrar um ponto negativo? É possível misturar razão e emoção e produzir cientificamente? Se há um pensamento disforme, qual problema nos propomos a resolver? Há um problema a ser resolvido?

Se aplicado à comunicação me parece que é apenas um modo de refletir baseado numa razão burguesa que perde a dimensão crítico-transformadora, tornando-se um caminho para resolver problemas que como instrumental, mudam de acordo com as transformações da sociedade, economia e tecnologia.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Avaliação 1: Curso de Mídia e Poder

No primeiro dia de aula, o Prof. Dimas logo nos obriga a escrever o que para nós significava a Mídia. Não sei se ao final do curso mudei a opinião que coloquei naquele dia, ainda acredito que a mídia exerce um papel que se reflete de forma bastante forte em nosso dia-a-dia podendo inclusive reger nossas opiniões.

É fato que as discussões que se seguiram ao longo do curso foram relevantes e apoiadas em referenciais teóricos que, quase em sua totalidade, dão à mídia a posição de culpada. Digo isso por que acho que a mídia não é a culpada de tudo, e muito menos o jornalismo, há problemas muito mais complexos que envolvem a relação das pessoas com a mídia desde o seu contexto social, político, econômico e tecnológico.

Posso não estar correto, mas me ficou a impressão de que as discussões ficaram em certo grau apoiadas na atividade jornalística. O que em minha opinião, não comprometeu em nenhum momento a qualidade geral do curso. Porém, fica a sugestão, mas só se minha impressão for verdadeira, que em outras oportunidades seria pertinente ampliar a discussão para outras frentes, não dando ao jornalismo a importância que ele não tem dentro do contexto mídia e poder.

Avaliação 2: Seminários

Todos os seminários foram críticos quanto à iniciativa de identificar nas várias obras pontos de conexão com um discurso apocalíptico com relação à mídia.

A minha opinião é de que não conseguimos fugir de qualquer produção comunicacional que não reflita uma intenção clara e objetiva de tratar o espaço de transmissão de mensagens como uma ferramenta importante para difusão ideológica.

Filmes, livros e personagens deixaram de ser ficção quando suas histórias foram colocadas em paralelo com a realidade que, quase como irmã gêmea, se mostra em sua face mais temível e poderosa.

Nesse sentido, os espaços de ficção e realidade se fundiram, dando a cada indivíduo, em sua própria condição, a possibilidade de lançar um olhar menos ingênuo com relação à produção midiática.

Avaliação 3: Blogs

As minhas opiniões sobre os blogs, como função, já foram expostas. Apenas farei um breve comentário sobre essa ferramenta usada pelo Prof. Dimas como método de avaliação.

É pertinente a idéia de deixar livre a produção do trabalho ocorrer ao longo do curso, devido ao tempo que, em nosso tempo, anda escasso. A regra de postarmos um texto próprio toda semana, confesso ser meio pesada, mas, a quem se propõe a tarefa de pesquisador, essa lição é menos dolorosa que outras tantas.

Deixo aqui minhas reflexões a fim de, como a própria missão de meu blog, interagir e discutir sobre os fenômenos midiáticos. Pretendo continuar utilizando-o como um espaço, ainda que organizado por mim e sem fugir de sua missão, de reflexões e pensamentos livres.

Ensaio sobre a Cegueira: Uma análise do uso excessivo do “branco” na fotografia

O branco que traz a paz, que conforta e que eleva é o mesmo
que te coloca na angústia e na escuridão das
reflexões mais profundas e, antes, inconcebíveis.

Esta análise se apoiará na semiologia para tentar explicar o elemento “branco” utilizado na fotografia do filme Ensaio sobre a Cegueira.

Ainda que as sensações não necessariamente se refletem em todos os espectadores da mesma forma, visto que as mediações acontecem cada qual com seu próprio indivíduo, podendo eu, inclusive, fazer parte desse processo, tentarei defender que o uso desse elemento contribuiu de forma decisiva para o resultado final da obra.

A história é forte o suficiente para desarrumar qualquer um. Não é possível não sentir um desconforto ao se deparar com essa obra. O motivo de todo o caos é a “Cegueira Branca” que atinge a todos. No filme, esse enredo ganha um reforço que considero importante, por exemplo, para que o espectador não fuja de sentir a mesma sensação que os personagens. Arrisco dizer que, apesar de as duas formas (livro e filme) serem abertas para diferentes mediações, no filme é possível perceber um condicionamento da sensação do espectador.

Esse condicionamento acontece de forma contrária ao que imaginamos ser a deficiência visual. É de consenso que ao ficarmos cego nos imaginamos na escuridão, no negro. Essa sensação é diariamente percebida ao fecharmos os olhos. A cor preta indica na maioria das vezes uma atitude negativa muitas vezes ligada à noite e morte e de forma afetiva à depressão.

Porém, acontece no filme o uso de imagens com saturação do branco e em alguns momentos num branco total. Há aqui uma quebra de paradigma muito forte, pois o branco em nossa sociedade não é visto como uma cor que causa essa angústia de nos tornarmos cegos. O branco é comunhão e casamento; possui também uma ligação com a pureza e religiosidade.

Com base em teorias que se ocupam de explicar as relações do ser humano com as cores em seus processos psicológicos ou fisiológicos, faço uma menção ao que alguns teóricos formularam sobre as cores: assim como o preto, o branco seria a ausência ou não de luz, não existindo, portanto, como cor. Todos nós já passamos pela experiência de nos sentirmos momentaneamente cegos, ao sairmos de um lugar intensamente iluminado e passarmos para outro totalmente escuro. Sabemos que, depois de certo tempo, começamos a perceber fracamente os objetos. Temos até a impressão de que eles estão sendo gradualmente iluminados. (1)

O filme é genial nesse ponto porque joga para longe a percepção que temos do branco, nos causa uma nova sensação retirando a referência que tínhamos. Há uma cena em que uma personagem está olhando para o céu em uma parte da imagem toda branca; ela, nesse momento, fica aflita achando que também tinha contraído a doença. No entanto, ao baixar a visão percebe que não estava cega e se alivia ao perceber que enxerga, ainda que um mundo destruído em todas as suas concepções atuais.

Essa quebra de referenciais nos faz deslocar ainda mais a atenção para a discussão principal do filme. Fazendo um paralelo com o que Charles S. Pierce formulou para se obter um conhecimento implícito de algo, o filme nos leva à condição primária de receber novos signos à medida que desfaz todos os outros formulados e aceitos pela nossa sociedade. A fase de primeiridade aparece quase sozinha na obra, desfazendo o processo contínuo de recepção e “aprendizado” de signos.

A todo instante, deparamo-nos com quebras sucessivas de concepções das mais diversas formas. Do ponto de vista de uma análise semiológica, o uso excessivo, porém pertinente do branco reforça o propósito da obra original que é sobretudo uma crítica social.

(1) Trecho retirado do livro: Farina, Modesto. Psicodinâmica das Cores em Comunicação. 4ª edição, 1990 e 7ª reimpressão, 2005. Usado também como consulta em outros momentos dessa análise.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Blogs: Resistência ou Mercadoria?

Em que medida os blogs se apresentam como a possibilidade de dar voz àqueles que assumiam o simples papel de receptores passivos dentro do processo comunicacional?

É desnecessário afirmar que a internet contribui para uma prática demasiadamente colaborativa na construção de conteúdo e opinião. Porém, se faz necessária a elevação da importância do receptor, pois é ele que ao expressar-se, dará novos subsídios para que se produza uma comunicação mais eficaz por parte, por exemplo, das organizações.

Do ponto de vista do receptor, os blogs são uma vontade quase que sufocante de colocar para fora suas angústias. É mais um problema que ocupa a atenção dos homens e que freqüentemente muda de acordo com as demandas da economia, sociedade e, em nosso tempo, da tecnologia.

Não existe a menor possibilidade de fuga. Ao se estabelecer qualquer posição crítica quanto aos modelos de manutenção da ordem, essa postura se manterá apenas como disfunção ou a lógica do mercado automaticamente devolverá à sua posição.

Nesse caso, o blog nasce como uma disfunção clara do modelo estabelecido, porém quando alcança certo status passa a usá-lo, por exemplo, como espaço comercial retomando à lógica mercadológica.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Agenda Setting: A Mídia pautando o assunto do "momento"



O grupo ativista Yes Men distribuiu 1,5 milhão de cópias falsas do New York Times em Nova York e em Los Angeles.

O jornal tem data de 4 de julho de 2009 e traz a manchete: Acaba a Guerra do Iraque. Outras notícias como o tesouro norte-americano anunciando um plano de impostos sensato, o ato patriota sendo revogado e George W. Bush sendo julgado por crimes de guerra podem ser lidas na edição futurista.

A circulação é quase a mesma do New York Times de verdade, o grupo contou com um exército de voluntários para distribuir os jornais. A preparação foi feita por códigos, e os Yes Men criaram dois sites, um para a operação e outro com um time de advogados para liberar rapidamente o distribuidor que fosse preso pela polícia.

Notícia divulgada no site http://www.uol.com.br/ no dia 12/11/2008 e comentada por mim neste blog.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Gênesis e o Marketing Político



1 - No princípio criou Deus os céus e a terra.
2 - E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
3 - E disse Deus: Haja luz; e houve luz.
4 - E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.
5 - E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.
6 - E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas.
7 - E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi.
8 - E chamou Deus à expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o dia segundo.
9 - E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi.
10 - E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom.
11 - E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi.
12 - E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.
13 - E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.
14 - E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos.
15 - E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e assim foi.
16 - E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas.
17 - E Deus os pôs na expansão dos céus para iluminar a terra,
18 - E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom.
19 - E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.
20 - E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus.
21 - E Deus criou as grandes baleias, e todo o réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas espécies; e toda a ave de asas conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.
22 - E Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares; e as aves se multipliquem na terra.
23 - E foi a tarde e a manhã, o dia quinto.
24 - E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado, e répteis e feras da terra conforme a sua espécie; e assim foi.
25 - E fez Deus as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.
26 - E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.
27 - E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
28 - E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.
29 - E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento.
30 - E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi.
31 - E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Cidadão Kane: Análise para o Seminário de Mídia e Poder

Cidadão Kane marcou sua época devido às inovações, sobretudo nas técnicas narrativas e nos enquadramentos cinematográficos. O filme começa com o protagonista já morto, mudando-se a cronologia dos fatos. E a cenografia mostra pela primeira vez o teto dos ambientes.

Dotado de uma postura agressiva e altas doses de sensacionalismo atrai estrelas dos veículos concorrentes praticando salários maiores, tornando-se homem de mídia.

Idealismo, espírito de iniciativa, fama, dinheiro, poder, mulheres, imortalidade e decadência fazem parte da carga dramática do personagem. Ilustra os ídolos que surgem no atual cenário mundial, principalmente americano, e que pela imaturidade e fama repentina, rapidamente calham em declínio de imagem e moraram no consciente coletivo como ídolos de uma geração sem referenciais.

A história é contada por um jornalista que reconstrói a vida do empresário Charles Foster Kane. Esse jornalista passa o filme todo tentando descobrir o significado da palavra “Rosebud” dita pelo senhor Kane no momento de sua morte.

Ao assistir o filme percebe-se que quando o senhor Kane morre, ele está sozinho em sua sala não podendo ser ouvido por ninguém. Porém, o jornalista usa a palavra possivelmente dita pelo magnata da mídia como algo que ele persegue insistentemente tentando descobrir seu significado.

O fato existiu para os que estão assistindo ao filme, mas para os personagens da trama não seria possível saber se esse momento ocorreu ou não. Ao agendar sua pauta baseada nesse fato, se cria várias possibilidades para que outras pessoas possam fazer suas conclusões sobre a vida tão polêmica do personagem.

Nesse sentido cabe um link com o termo Agenda Setting, formulado por Maxwell McCombs e Donald Shaw, que diz que a mídia determina a pauta para a opinião pública ao destacar determinados temas e preferir ofuscar ou ignorar outros tantos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Uma análise do filme Ensaio sobre a Cegueira a partir de uma visão estrutural/funcionalista

Essa análise se apóia em duas correntes teóricas do campo da comunicação social. Com base no estruturalismo que, com relação ao filme, ilustra com exatidão a visão de uma sociedade que em sua totalidade é estruturada e contraditória, lanço um olhar para dentro da coluna discursiva do filme com o objetivo de encontrar elementos que ilustrem uma visão funcionalista acerca desse fenômeno.

Tais elementos serão analisados a partir da ótica de três personagens, são eles: a mulher do médico, o rei do pavilhão que tem a comida e que cobra para distribuí-la e o seu cúmplice, um senhor que já era cego antes da tal epidemia atingir os demais.

“Acho que não ficamos cegos. Acho que sempre fomos cegos.
José Saramago

Em alguns momentos empregarei o termo “estado” para evocar qualquer um dos três pavilhões que foram utilizados, de início, para acomodar as pessoas sem fazer nenhuma distinção entre elas.

Quando os atingidos pela cegueira branca vão sendo isolados dos demais para não contaminar o resto da população, se constitui ali um novo espaço onde as relações que se estabelecem dentro desse novo mundo, são iniciadas por uma condição de igualdade (cegueira) entre todos.

Compartilhando visões com o espectador
A personagem que não é infectada pela tal cegueira, mas que por uma questão de necessidade de não diferenciação em relação aos demais, também se torna cega diante dos fatos.
(Aqui o funcionalismo se faz presente à medida que torna o agente passível de mudança e conformista diante da situação.)

Porém, dentro de vários momentos degradantes para as concepções atuais, ela escolhe um único momento para utilizar de sua condição favorável para rebelar-se diante das novas ordens estabelecidas. Naquele momento ela subverte a moral em que se constituiu o novo estado, cruza as fronteiras entre os dois pavilhões e vai derrubar o chefe do estado novo. É em certa medida a disfunção clara da concepção do novo poder.
(Aqui se faz presente os elementos contraditórios da visão de sociedade que o estruturalismo propõe. É nesse momento em que a crítica tenta subverter a nova ordem estabelecida, porém a faz com elementos tão contraditórios quanto os criados no início.)

Uma nova sociedade, para que se constitua num novo estado forte, sempre se apoiará nos velhos poderes
Quando qualquer diferença se estabelece é nesse momento em que um novo poder tenta se recriar, com os mesmos velhos modelos, apenas com o intuito de se mudar o controle, para se chegar a ele.

Na medida em que um pavilhão fica lotado pelas pessoas que vão chegando, os novos acometidos pela cegueira vão sendo obrigados a ir para outro espaço constituindo assim três estados paralelos.

A partir dessa separação, que no primeiro momento acontece sem distinção alguma, as relações começam a ser mediadas com o único objetivo de obter o controle do espaço por meio da manipulação das pessoas. Esse controle acontece com o uso da coerção e de posse daquilo que é básico e necessário à sobrevivência de todos.
(Quando se constitui um novo espaço onde relações de interação entre as pessoas são constantemente mediadas sem a manutenção da ordem, automaticamente surge a necessidade de elucidação de novas leis para controle social.)

Qualquer liderança que se estabeleça, sempre o fará pelo uso da força e da inteligência
No personagem do rei do pavilhão que tem a comida e que cobra para distribuí-la e a do seu cúmplice, um senhor que já era cego antes da tal epidemia atingir os demais, é que se faz presente o discurso funcionalista.

Os integrantes do primeiro pavilhão representados pelo médico, figura que carrega em si um aspecto de certa intelectualidade, optam por meio de um discurso mediador convencer aos demais que se faça uma distribuição dos recursos (comida) de forma justa.

Prontamente aparece para combater esse primeiro foco de controle a figura de um personagem que usa de um discurso mais persuasivo, questionando a autoridade do primeiro. Esse, ao contrário do primeiro, resolve se apoiar no uso da força para tomar o controle.

De posse desta “autoridade”, reconhece num outro personagem um forte aliado para manutenção da nova ordem. Ele traz para si um senhor (naquela situação é junto com a mulher do médico os dois com melhores condições de lidar com a nova situação) que já era cego antes mesmo da epidemia atingir a todos. É esta figura, representando certa inteligência, que será o fiel companheiro do Rei que tem a arma em punho.
(Quando o governo se estabelece é nesse momento que todos passam a servi-lo deixando suas concepções individuais à margem do interesse do estado. Há uma espécie de massificação das individualidades em detrimento da necessidade de todos e do poder que se estabelece.)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sim, Funcionalista

Assumo neste texto minha posição de funcionalista.

Todo e qualquer processo de comunicação, da conversa mais simples entre dois colegas ou de uma propaganda na TV, existe sim uma intenção. Nesse sentido, entendo que o emissor da mensagem tenta a todo custo convencer ou persuadir sua audiência. De posse dessa condição, queremos apenas que o receptor cumpra seu papel de comprar nossa idéia ou produto. Aqui, não queremos que essa ordem seja subvertida.

Isso é um jogo que muitas vezes se apresenta de forma sutil por fazer parte do nosso dia-a-dia e estarmos a todo o momento comunicando algo para alguém.

Porém, o mundo moderno nos dá algumas possibilidades de fuga dessa alienação. O termo Indústria Cultural, introduzido por Adorno e Horkheimer, esclarece que o acesso, do proletariado, às diversas formas de cultura cria a capacidade de construir massa critica possibilitando o diálogo em pé de igualdade.

A partir disso se cria o jogo fantástico da comunicação. Seremos então, todos nós, funcionalistas quando emissores, e críticos quando receptores dentro do processo de comunicação.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Para que serve a cultura?

Cabe aqui uma pequena introdução para minha defesa da Indústria Cultural.

A parte da sociedade conhecida como aristocracia é que detinha o poder e conseqüentemente tinha acesso às diversas formas de cultura.

Com Marx, surge a idéia de capital e trabalho onde o proletariado por meio do trabalho, começa a ganhar dinheiro passando a consumir o que antes era acessível apenas aos mais abastados e de berço. O termo emergente, tão usado nos dias de hoje, surge nesse movimento.

Cultura é tudo aquilo que não é natural.

Uma conversa; Um livro; Um programa de TV; Uma música; Um jogo online; Uma nova língua... Enfim, tudo que está ao nosso redor é cultura e o modo como cada um responde a esses estímulos é que vai fazer a diferença. O nosso cérebro é uma máquina sem limitações, podemos tirar dele o infinito e, quanto mais exercitamos, mais espaço ele nos dá para armazenar novos aprendizados.

Aculturar-se é condição para que todo Ser viva em harmonia. É o exercício mental mais saudável que existe. Quando estamos dormindo nosso cérebro aproveita para reorganizar tudo que aprendemos.

Conhecimento gera inteligência que é adquirido através da cultura. Não é correto afirmar que alguém é mais inteligente porque fala várias línguas, sabe operar um computador ou conhece vários países. Isso cria repertório e quanto mais repertório melhor. Se um dia você chegar a dizer que não precisa aprender mais nada, que tudo que você vê no mundo é de seu pleno conhecimento, você pode se considerar um ser sem cultura. Mas se for incansável na busca por inteligência, você se torna automaticamente um ser culto.

Não cabem comparações quanto ao nível de conhecimento. Porque devo achar que sou mais inteligente que o outro? O outro lado, com certeza, tem qualidades em áreas específicas, que eu não teria. Isso não significa que sou mais ou menos inteligente ou que também não poderia condicionar-me a compreender tal assunto.

Se ficarmos presos na nossa caverna, só conseguiremos enxergar o que nos é oferecido. Temos sempre que num exercício de humildade tentar enxergar além do horizonte, ter a consciência que nada sabemos e que por isso precisamos ir atrás de mais conhecimento.

Esse, com certeza é um processo sem fim. Cultura não esgota. Amplia.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Velocidade x Veracidade

Esse texto não pretende colocar uma pedra em cima de um ou de outro aspecto vinculado ao jornalismo como é produzido nos dias de hoje.

Tentarei abordar alguns conceitos de forma separada, mas acredito que em algum momento eles se fundem como resultantes do processo de produção industrial que atingiu a comunicação.

A velocidade com que as informações jornalísticas são produzidas e transmitidas é fruto da intensa necessidade que temos em consumir cada vez mais informação no menor tempo possível. Na verdade, uma das problemáticas resultantes do processo de recepção está em não haver tempo hábil para que a informação flua de forma crítica em nossas cabeças.

Conseqüentemente, o tempo que resta para a verificação de fontes e informações quase não existe. Porém, há um fator mais relevante a ser considerado. A necessidade dos veículos em conseguir o furo de reportagem, e a surpresa na revelação dos fatos acarreta num exagero do teor sensacionalista, diminuindo a confiabilidade das informações.

Nos dois casos, a internet contribui com a difusão rápida dessas mensagens num espaço sem limites físicos. Nela, quando uma mensagem é transmitida, se espalha instantaneamente ultrapassando fronteiras e deixando cada vez mais distante a idéia de um emissor visível e único.
Quando essa idéia se perde, logo assumimos o papel de emissor adaptando a mensagem original. Isso feito, cada um assume as suas verdades e se distancia dos fatos verídicos.

Não seria justo criticar o espaço no qual eu mesmo me utilizo para difundir idéias, mas vale a pena levantar a questão de que com a internet a idéia de culpado desaparece e surgi a de apenas cúmplices do processo de transmissão.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Artigo publicado na Revista RI Nº 124 Julho/Agosto 2008



Metas do Milênio: Temos um Plano B?
Convido a todos para uma reunião de alinhamento das metas do milênio e de, talvez, um possível aumento no prazo estabelecido para cumprirmos o planejamento integralmente.

Se pensarmos que somos todos de uma mesma organização, gigantesca a ponto de estarmos em todos os lugares do planeta, e que todos os seres humanos são profissionais em suas áreas específicas, devo lhes dizer que nossa empresa poderia estar à beira da falência porque não sabemos como se faz planejamento em longo prazo.

Pretensiosamente, resolvemos dar o passo maior que a perna e colocamos a empresa e todos os acionistas em risco. Como será quando chegarmos ao final do prazo estabelecido e descobrirmos, como se não soubéssemos, que não cumprimos nem metade do que prometemos?

A verdade é que, de forma bem amadora e apenas pensando em publicidade, assumimos objetivos que vão além de nossa capacidade de realização.

Seria muito simples se pensássemos que não temos concorrentes, nem tampouco almejamos a liderança; seríamos apenas nós, decidindo sobre nós mesmos. E o que fizemos até agora? Que resultados práticos alcançamos? Sabemos o quanto falta para atingir o objetivo final? Revimos as metas? Faremos ajustes no prazo estabelecido?

Minha opinião é de que devemos alongar o prazo para, quem sabe, o próximo milênio, e, assim, não estaríamos aqui para responder caso não obtivéssemos sucesso. Ou, então, o melhor é assumirmos nossa incompetência em gerir nossa empresa. Faço essa convocação extraordinária apenas para lembrar que chegamos à metade do prazo estabelecido e que precisamos urgentemente nos alinhar com as metas do milênio.

Para quem as esqueceu, aqui estão, uma a uma:
1. Acabar com a fome e a miséria;
2. Educação básica e de qualidade para todos;
3. Igualdade entre sexos e valorização da mulher;
4. Reduzir a mortalidade infantil;
5. Melhorar a saúde das gestantes;
6. Combater a Aids, a malária e outras doenças;
7. Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; e
8. Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.

Se alguém tiver idéia do que fazer para cumpri-las em apenas sete anos, será promovido a presidente do conselho de administração de forma vitalícia e terá que tomar todas as decisões por nós. Lembro que a remuneração é variável de acordo com os objetivos alcançados.

Podemos fazer o seguinte: nos dividimos em grupos, cada um cuidando de uma meta específica e, ao final, teremos o Papai Noel nos entregando as chaves do paraíso. O que acham?

Não quero estar aqui para ver o que nossa companhia, que até hoje em seus relatórios usou o logotipo das metas para divulgar suas ações, dirá quando chegarmos em 2015. Vamos ser conscientes, nos reunir, então, para elaborarmos um pedido de desculpas formal dirigido a quem possa interessar.

Desculpem-me se levei as metas do milênio ao “pé da letra”. Inteligentes mesmo foram os países que não se comprometeram com total absurdo por terem a consciência de que jamais chegariam a tal propósito.

Alguns dados colhidos no documento “Situação Mundial da Infância 2007”, do Unicef, e no site do PNUD nos dão uma idéia da situação atual:
- A mutilação/corte genital feminino (M/CGF) envolve a remoção parcial ou total da genitália feminina e outras lesões. Estima-se que mais de 130 milhões de mulheres e meninas, ainda vivas, tenham sido submetidas à M/CGF.
- No norte da África, um em cada cinco trabalhadores é do sexo feminino, e essa proporção não muda há 15 anos.
- O Unicef prevê que o número de crianças que perderão um ou ambos os pais devido à Aids chegará a 15,7 milhões até 2010.
- Para cada 100 meninos fora da escola, há 115 meninas na mesma situação.
- Na América Latina e no Caribe, segundo o Unicef, crianças fora da escola somam 4,1 milhões.
- Em 2015, ainda haverá 30 milhões de crianças abaixo do peso no sul da Ásia e na África.
- A meta de reduzir em 50% o número de pessoas sem acesso à água potável deve ser cumprida, mas a de melhorar condições em favelas e bairros pobres está progredindo lentamente.
- Os países pobres pagam a cada dia o equivalente a US$ 100 milhões em serviço da dívida para os países ricos.

A maioria das companhias de capital aberto tem em sua missão o conceito da sustentabilidade e se não abdicassem dela em decorrência do lucro de curto prazo, talvez hoje estivéssemos em um mundo mais equilibrado – um ambiente sustentável em longo prazo implica dar a mesma importância para as questões socioambientais como se dá ao lucro. Porém, esse foco para o lucro não depende apenas das empresas, mas também da sociedade, que cobra delas, prioritariamente, resultados financeiros, como sendo esse o ideal de desenvolvimento.

A visão global do milênio e suas metas estão longe da sinceridade empresarial, longe até de um engajamento que lhes seja possível, de concepção realizável. O que quero lançar é um convite para deixarmos de lado a utopia e enxergarmos com seriedade os discursos e os fatos. Em vez de um futuro de fantasia, deveríamos planejar um futuro concreto e de resultados.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Comunicação para Quem ainda não É

Adquirimos ao longo da vida experiências cognitivas. Tudo aquilo que captamos no mundo nos ajuda a construir em nossas mentes um repertório suficiente para entendermos tudo, ou quase tudo, que está ao nosso redor.

Não é segredo para ninguém que nossas crianças passam cada vez mais tempo em frente à televisão, ao computador ou no celular do que com a família ou outras crianças. Porém, elas ainda não construíram repertório suficiente para discernir o que realmente lhes é bom ou ruim.

Como a comunicação de massa criou a sociedade do consumo usando artifícios para manipular as crianças e convencer os mais velhos?

As crianças não construíram um vasto repertório de palavras em seu vocabulário e já conseguem pedir uma boneca Barbie para os pais, ou então uma roupa da marca “tal” para ficarem parecidas com um grupo musical que elas nem entendem o que estão cantando. Um menino consegue convencer seus pais a comprar um pokémon (palavra que o corretor de texto do word sabe corrigir) e, com uma velocidade espantosa, se desfazer do brinquedo para adquirir uma versão mais moderna e que possui mais poderes.

Quem nunca se viu brigando com um colega na escola para imitar a cena de um filme de luta ou meninas se maquiando e se vestindo como as mulheres da TV?

Por que corporações poderosas têm em sua estratégia trazer para si consumidores cada vez mais novos e com menos juízo de decisão sobre o que é bom ou ruim?

A publicidade se torna abusiva quando tenta atingir esse público; ela quer, com isso, fidelizá-lo, para que no futuro essas crianças sejam potenciais consumidores de uma gama de produtos que pertencem a uma mesma organização e que servem, também, para difundir conceitos ideológicos.

Nike, Coca-Cola e Nestlé são capazes de vender não só seus produtos, eles criam uma atmosfera que vai ao longo do tempo fazendo com que não vivamos mais sem eles.

Um produto que contribui para a nutrição infantil pertence à mesma organização que oferece um isotônico para a prática esportiva dos jovens e que também é dona de uma barra de cereal para a correria do seu dia-a-dia.

A televisão e, também, o cinema conseguem difundir ideais que ao longo do tempo servem de base para a construção de um pensamento básico e comum a todos. É um exercício de massificação e condicionamento silencioso a que se refere Ignacio Ramonet, em seu livro Propagandas Silenciosas. Em que ponto deixa de ser propaganda comercial e vira publicidade com fins ideológicos? Precisamos entender as sutilezas por trás de tudo que nos é oferecido, o que consumimos é apenas a ponta do iceberg; existem intenções que vão além de nossas fronteiras culturais e políticas. (1)

O caso das histórias em quadrinhos da Walt Disney é um exemplo clássico de manipulação com fins ideológicos. Se, antigamente para colonizar um país, bastava ser o primeiro a descobri-lo e com força armada e “inteligência” passar a explorá-lo em toda a sua extensão, isso já não funciona nos nossos tempos, até por que não temos mais terras a serem descobertas e exploradas senão em outros planetas.

Como difundir a cultura de um país nos tempos atuais de forma a se impor? Daí entra o que chamo de colonialismo contemporâneo a que se referem Ariel Dorfman e Armand Mattelart em sua crítica ferrenha aos americanos e em especial a Walt Disney. (2)

(1) Romanet, Ignacio. Propagandas Silenciosas.
(2) Dorfman, Ariel e Mattelart, Armand. Para Ler o Pato Donald - Comunicação de Massa e Colonialismo.

http://www.criancaseconsumo.org.br/