quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Uma análise do filme Ensaio sobre a Cegueira a partir de uma visão estrutural/funcionalista

Essa análise se apóia em duas correntes teóricas do campo da comunicação social. Com base no estruturalismo que, com relação ao filme, ilustra com exatidão a visão de uma sociedade que em sua totalidade é estruturada e contraditória, lanço um olhar para dentro da coluna discursiva do filme com o objetivo de encontrar elementos que ilustrem uma visão funcionalista acerca desse fenômeno.

Tais elementos serão analisados a partir da ótica de três personagens, são eles: a mulher do médico, o rei do pavilhão que tem a comida e que cobra para distribuí-la e o seu cúmplice, um senhor que já era cego antes da tal epidemia atingir os demais.

“Acho que não ficamos cegos. Acho que sempre fomos cegos.
José Saramago

Em alguns momentos empregarei o termo “estado” para evocar qualquer um dos três pavilhões que foram utilizados, de início, para acomodar as pessoas sem fazer nenhuma distinção entre elas.

Quando os atingidos pela cegueira branca vão sendo isolados dos demais para não contaminar o resto da população, se constitui ali um novo espaço onde as relações que se estabelecem dentro desse novo mundo, são iniciadas por uma condição de igualdade (cegueira) entre todos.

Compartilhando visões com o espectador
A personagem que não é infectada pela tal cegueira, mas que por uma questão de necessidade de não diferenciação em relação aos demais, também se torna cega diante dos fatos.
(Aqui o funcionalismo se faz presente à medida que torna o agente passível de mudança e conformista diante da situação.)

Porém, dentro de vários momentos degradantes para as concepções atuais, ela escolhe um único momento para utilizar de sua condição favorável para rebelar-se diante das novas ordens estabelecidas. Naquele momento ela subverte a moral em que se constituiu o novo estado, cruza as fronteiras entre os dois pavilhões e vai derrubar o chefe do estado novo. É em certa medida a disfunção clara da concepção do novo poder.
(Aqui se faz presente os elementos contraditórios da visão de sociedade que o estruturalismo propõe. É nesse momento em que a crítica tenta subverter a nova ordem estabelecida, porém a faz com elementos tão contraditórios quanto os criados no início.)

Uma nova sociedade, para que se constitua num novo estado forte, sempre se apoiará nos velhos poderes
Quando qualquer diferença se estabelece é nesse momento em que um novo poder tenta se recriar, com os mesmos velhos modelos, apenas com o intuito de se mudar o controle, para se chegar a ele.

Na medida em que um pavilhão fica lotado pelas pessoas que vão chegando, os novos acometidos pela cegueira vão sendo obrigados a ir para outro espaço constituindo assim três estados paralelos.

A partir dessa separação, que no primeiro momento acontece sem distinção alguma, as relações começam a ser mediadas com o único objetivo de obter o controle do espaço por meio da manipulação das pessoas. Esse controle acontece com o uso da coerção e de posse daquilo que é básico e necessário à sobrevivência de todos.
(Quando se constitui um novo espaço onde relações de interação entre as pessoas são constantemente mediadas sem a manutenção da ordem, automaticamente surge a necessidade de elucidação de novas leis para controle social.)

Qualquer liderança que se estabeleça, sempre o fará pelo uso da força e da inteligência
No personagem do rei do pavilhão que tem a comida e que cobra para distribuí-la e a do seu cúmplice, um senhor que já era cego antes da tal epidemia atingir os demais, é que se faz presente o discurso funcionalista.

Os integrantes do primeiro pavilhão representados pelo médico, figura que carrega em si um aspecto de certa intelectualidade, optam por meio de um discurso mediador convencer aos demais que se faça uma distribuição dos recursos (comida) de forma justa.

Prontamente aparece para combater esse primeiro foco de controle a figura de um personagem que usa de um discurso mais persuasivo, questionando a autoridade do primeiro. Esse, ao contrário do primeiro, resolve se apoiar no uso da força para tomar o controle.

De posse desta “autoridade”, reconhece num outro personagem um forte aliado para manutenção da nova ordem. Ele traz para si um senhor (naquela situação é junto com a mulher do médico os dois com melhores condições de lidar com a nova situação) que já era cego antes mesmo da epidemia atingir a todos. É esta figura, representando certa inteligência, que será o fiel companheiro do Rei que tem a arma em punho.
(Quando o governo se estabelece é nesse momento que todos passam a servi-lo deixando suas concepções individuais à margem do interesse do estado. Há uma espécie de massificação das individualidades em detrimento da necessidade de todos e do poder que se estabelece.)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sim, Funcionalista

Assumo neste texto minha posição de funcionalista.

Todo e qualquer processo de comunicação, da conversa mais simples entre dois colegas ou de uma propaganda na TV, existe sim uma intenção. Nesse sentido, entendo que o emissor da mensagem tenta a todo custo convencer ou persuadir sua audiência. De posse dessa condição, queremos apenas que o receptor cumpra seu papel de comprar nossa idéia ou produto. Aqui, não queremos que essa ordem seja subvertida.

Isso é um jogo que muitas vezes se apresenta de forma sutil por fazer parte do nosso dia-a-dia e estarmos a todo o momento comunicando algo para alguém.

Porém, o mundo moderno nos dá algumas possibilidades de fuga dessa alienação. O termo Indústria Cultural, introduzido por Adorno e Horkheimer, esclarece que o acesso, do proletariado, às diversas formas de cultura cria a capacidade de construir massa critica possibilitando o diálogo em pé de igualdade.

A partir disso se cria o jogo fantástico da comunicação. Seremos então, todos nós, funcionalistas quando emissores, e críticos quando receptores dentro do processo de comunicação.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Para que serve a cultura?

Cabe aqui uma pequena introdução para minha defesa da Indústria Cultural.

A parte da sociedade conhecida como aristocracia é que detinha o poder e conseqüentemente tinha acesso às diversas formas de cultura.

Com Marx, surge a idéia de capital e trabalho onde o proletariado por meio do trabalho, começa a ganhar dinheiro passando a consumir o que antes era acessível apenas aos mais abastados e de berço. O termo emergente, tão usado nos dias de hoje, surge nesse movimento.

Cultura é tudo aquilo que não é natural.

Uma conversa; Um livro; Um programa de TV; Uma música; Um jogo online; Uma nova língua... Enfim, tudo que está ao nosso redor é cultura e o modo como cada um responde a esses estímulos é que vai fazer a diferença. O nosso cérebro é uma máquina sem limitações, podemos tirar dele o infinito e, quanto mais exercitamos, mais espaço ele nos dá para armazenar novos aprendizados.

Aculturar-se é condição para que todo Ser viva em harmonia. É o exercício mental mais saudável que existe. Quando estamos dormindo nosso cérebro aproveita para reorganizar tudo que aprendemos.

Conhecimento gera inteligência que é adquirido através da cultura. Não é correto afirmar que alguém é mais inteligente porque fala várias línguas, sabe operar um computador ou conhece vários países. Isso cria repertório e quanto mais repertório melhor. Se um dia você chegar a dizer que não precisa aprender mais nada, que tudo que você vê no mundo é de seu pleno conhecimento, você pode se considerar um ser sem cultura. Mas se for incansável na busca por inteligência, você se torna automaticamente um ser culto.

Não cabem comparações quanto ao nível de conhecimento. Porque devo achar que sou mais inteligente que o outro? O outro lado, com certeza, tem qualidades em áreas específicas, que eu não teria. Isso não significa que sou mais ou menos inteligente ou que também não poderia condicionar-me a compreender tal assunto.

Se ficarmos presos na nossa caverna, só conseguiremos enxergar o que nos é oferecido. Temos sempre que num exercício de humildade tentar enxergar além do horizonte, ter a consciência que nada sabemos e que por isso precisamos ir atrás de mais conhecimento.

Esse, com certeza é um processo sem fim. Cultura não esgota. Amplia.