Adquirimos ao longo da vida experiências cognitivas. Tudo aquilo que captamos no mundo nos ajuda a construir em nossas mentes um repertório suficiente para entendermos tudo, ou quase tudo, que está ao nosso redor.
Não é segredo para ninguém que nossas crianças passam cada vez mais tempo em frente à televisão, ao computador ou no celular do que com a família ou outras crianças. Porém, elas ainda não construíram repertório suficiente para discernir o que realmente lhes é bom ou ruim.
Como a comunicação de massa criou a sociedade do consumo usando artifícios para manipular as crianças e convencer os mais velhos?
As crianças não construíram um vasto repertório de palavras em seu vocabulário e já conseguem pedir uma boneca Barbie para os pais, ou então uma roupa da marca “tal” para ficarem parecidas com um grupo musical que elas nem entendem o que estão cantando. Um menino consegue convencer seus pais a comprar um pokémon (palavra que o corretor de texto do word sabe corrigir) e, com uma velocidade espantosa, se desfazer do brinquedo para adquirir uma versão mais moderna e que possui mais poderes.
Quem nunca se viu brigando com um colega na escola para imitar a cena de um filme de luta ou meninas se maquiando e se vestindo como as mulheres da TV?
Por que corporações poderosas têm em sua estratégia trazer para si consumidores cada vez mais novos e com menos juízo de decisão sobre o que é bom ou ruim?
A publicidade se torna abusiva quando tenta atingir esse público; ela quer, com isso, fidelizá-lo, para que no futuro essas crianças sejam potenciais consumidores de uma gama de produtos que pertencem a uma mesma organização e que servem, também, para difundir conceitos ideológicos.
Nike, Coca-Cola e Nestlé são capazes de vender não só seus produtos, eles criam uma atmosfera que vai ao longo do tempo fazendo com que não vivamos mais sem eles.
Um produto que contribui para a nutrição infantil pertence à mesma organização que oferece um isotônico para a prática esportiva dos jovens e que também é dona de uma barra de cereal para a correria do seu dia-a-dia.
A televisão e, também, o cinema conseguem difundir ideais que ao longo do tempo servem de base para a construção de um pensamento básico e comum a todos. É um exercício de massificação e condicionamento silencioso a que se refere Ignacio Ramonet, em seu livro Propagandas Silenciosas. Em que ponto deixa de ser propaganda comercial e vira publicidade com fins ideológicos? Precisamos entender as sutilezas por trás de tudo que nos é oferecido, o que consumimos é apenas a ponta do iceberg; existem intenções que vão além de nossas fronteiras culturais e políticas. (1)
O caso das histórias em quadrinhos da Walt Disney é um exemplo clássico de manipulação com fins ideológicos. Se, antigamente para colonizar um país, bastava ser o primeiro a descobri-lo e com força armada e “inteligência” passar a explorá-lo em toda a sua extensão, isso já não funciona nos nossos tempos, até por que não temos mais terras a serem descobertas e exploradas senão em outros planetas.
Como difundir a cultura de um país nos tempos atuais de forma a se impor? Daí entra o que chamo de colonialismo contemporâneo a que se referem Ariel Dorfman e Armand Mattelart em sua crítica ferrenha aos americanos e em especial a Walt Disney. (2)
(1) Romanet, Ignacio. Propagandas Silenciosas.
(2) Dorfman, Ariel e Mattelart, Armand. Para Ler o Pato Donald - Comunicação de Massa e Colonialismo.
http://www.criancaseconsumo.org.br/
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Comunicação para Quem ainda não É
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Um comentário:
Uma boa reflexão
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