terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Os Equívocos de António Damásio

Tentarei dialogar com algumas idéias do livro: O Erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano. Esse livro foi objeto de estudo do Grupo de Pesquisa: Comunicação e Epistemologia da Compreensão.

António Damásio ilustra o fato de que as emoções são indispensáveis para a nossa vida racional e brinca com o título propondo que tudo que se produziu acerca das experiências de Descartes pode se dizer que foi um erro.

“São as emoções que nos fazem únicos, e é o nosso comportamento emocional que nos diferencia uns dos outros.”

Seria essa a explicação para o fenômeno do surgimento de grupos que se propõem a serem diferentes, mas internamente continuam sendo iguais entre si? O que existe na verdade é uma única individualidade coletiva que move a todos.

“Foi Descartes que possibilitou ao homem chegar à lua, mas também levou à fragmentação característica das especializações nos nossos meios acadêmicos e no pensamento em geral.”

Descartes ao revelar o método científico expôs, na verdade, a nossa forma de pensar, de estruturar e de lidar com o mundo. Ele não consideraria a emoção na produção científica por que ela seria a esteira que conduziria o modo como empregaríamos esse fazer científico.

Tenho sérias dúvidas se chegar à lua foi algo extraordinário para a humanidade. Chegamos até a pensar que iríamos trabalhar menos com a chegada do computador. O homem, de posse da ciência e tecnologia construiu mecanismos de destruição em massa e, não se esqueçam que antes da vacina, criamos a doença. Não foram essas, e há outros exemplos, as melhores formas de utilizarmos o que Descartes propôs. Consideramos que parte do cérebro para construirmos um mundo completamente desequilibrado de todos os pontos de vista?

Quanto à fragmentação das especializações nos nossos meios acadêmicos confesso que não compreendo o que Damásio quer dizer com nossos meios acadêmicos, visto que esse é um espaço completamente distante da maioria. Porém, concordo com ele que há algum problema nisso, mas acho que ele decorre da nossa necessidade, que não mora na razão, de agregarmos saberes que antes nunca haviam sequer sido colocados em paralelo e, muito menos numa mesma disciplina. Parece-me que é nesse caminho que mora a idéia de um saber líquido e disforme, na tentativa de alcançarmos uma posição privilegiada em relação a uma audiência maior.

Acho também que vivemos num mundo essencialmente de práticas em que o produzir não deixa tempo para teorizações. Por isso, há uma necessidade sufocante no mercado de trabalho de interrelacionar disciplinas, criando outras tantas.

O meio acadêmico tenta apenas atender a essa demanda. Com relação aos cursos de comunicação social, até meados dos anos 80 havia apenas 6 habilitações no curso de comunicação social. Hoje, quantos foram os temas e cursos que surgiram e que tratam desse tema? Há ainda uma gama enorme de possibilidades que devem surgir nesse campo com o surgimento da internet e de novas formas de comunicação.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Artigo publicado na Revista RI Nº 127 Novembro 2008



Qual o melhor modelo de comunicação da Sustentabilidade?
A temática da sustentabilidade não é complexa porque envolve diferentes interesses, mas sim porque os temas são urgentes ao mesmo tempo.

Devemos ter o olhar de quem nasce em meio a revoluções tecnológicas e preocupações que vão além de um modelo de desenvolvimento, baseado apenas no retorno econômico. Essa premissa deve nos ajudar a questionar e buscar um modelo próprio de comunicação da sustentabilidade, já que o tema exige diálogo permanente em pé de igualdade com todos os setores da sociedade.

Avaliar a eficácia da comunicação da sustentabilidade nos obriga a determinar o quanto esse tema é relevante para a sobrevivência das organizações. Imagino que a maioria delas tenha apenas a noção de que se o concorrente faz, também devam fazer. Com relação à sustentabilidade, não querem ficar atrás de seus concorrentes nem quando erram conceitualmente na apresentação de seu desempenho e envolvimento em questões socioambientais, e ainda menos quando acertam. A impressão é a de que devem apresentar “alguma coisa”, afirmar que têm uma política de responsabilidade socioambiental, apesar de nem poderem comprovar consistência do seu discurso, e menos ainda de suas ações.

Uma questão que chama atenção é como as empresas tratam da sustentabilidade em sua estrutura interna. Algumas entendem que o melhor é que a sustentabilidade seja competência dos departamentos de relações com investidores; outras com o de comunicação, e outras ainda acham que o melhor é ter um departamento específico. Em minha opinião, a área de comunicação tem como princípio básico o diálogo constante com todos os públicos estratégicos da companhia. Ela pensa, junto com o marketing, como a marca e a imagem devem ser transmitidas para dentro e fora da companhia. E isso também envolve os princípios de sustentabilidade.

Alguém já se perguntou se o melhor modelo de comunicação da sustentabilidade são os relatórios que, em sua maioria, são publicados uma vez por ano? Seria a internet o melhor caminho para a comunicação da sustentabilidade? Se me perguntassem ainda se devem ou não divulgar o relatório de sustentabilidade no intervalo do Jornal Nacional, não saberia responder. De início, é um exercício gigantesco de síntese conseguir colocar todas as questões que envolvem a sustentabilidade, todas as facetas da inserção de uma organização na sociedade em seus aspectos econômico-financeiros, socioambientais, num único relatório de, por exemplo, 80 páginas.

Daremos um passo atrás para tentar criar um modelo que talvez nem exista hoje, mas ele será criado e pensado a partir da ótica que desejamos comunicar. A cópia fiel de modelos presentes no mercado só reflete a nossa surpresa com o surgimento dessa temática.

Não acredito num modelo único que sirva para todas as empresas, mas levanto a idéia de que temos de pensar de maneira nova sobre a comunicação da sustentabilidade e estar abertos para novas possibilidades.

Assim, pensaremos criativamente sobre o tema.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Reflexões sobre a reunião do Grupo de Pesquisa: Comunicação e Epistemologia da Compreensão

Epistemologia é a forma de pensar dialogicamente, sem a pretensão de se alcançar uma síntese, que rompe com a necessidade de pontos finais.

É possível pensar sobre essa forma de pensar e encontrar um ponto negativo? É possível misturar razão e emoção e produzir cientificamente? Se há um pensamento disforme, qual problema nos propomos a resolver? Há um problema a ser resolvido?

Se aplicado à comunicação me parece que é apenas um modo de refletir baseado numa razão burguesa que perde a dimensão crítico-transformadora, tornando-se um caminho para resolver problemas que como instrumental, mudam de acordo com as transformações da sociedade, economia e tecnologia.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Avaliação 1: Curso de Mídia e Poder

No primeiro dia de aula, o Prof. Dimas logo nos obriga a escrever o que para nós significava a Mídia. Não sei se ao final do curso mudei a opinião que coloquei naquele dia, ainda acredito que a mídia exerce um papel que se reflete de forma bastante forte em nosso dia-a-dia podendo inclusive reger nossas opiniões.

É fato que as discussões que se seguiram ao longo do curso foram relevantes e apoiadas em referenciais teóricos que, quase em sua totalidade, dão à mídia a posição de culpada. Digo isso por que acho que a mídia não é a culpada de tudo, e muito menos o jornalismo, há problemas muito mais complexos que envolvem a relação das pessoas com a mídia desde o seu contexto social, político, econômico e tecnológico.

Posso não estar correto, mas me ficou a impressão de que as discussões ficaram em certo grau apoiadas na atividade jornalística. O que em minha opinião, não comprometeu em nenhum momento a qualidade geral do curso. Porém, fica a sugestão, mas só se minha impressão for verdadeira, que em outras oportunidades seria pertinente ampliar a discussão para outras frentes, não dando ao jornalismo a importância que ele não tem dentro do contexto mídia e poder.

Avaliação 2: Seminários

Todos os seminários foram críticos quanto à iniciativa de identificar nas várias obras pontos de conexão com um discurso apocalíptico com relação à mídia.

A minha opinião é de que não conseguimos fugir de qualquer produção comunicacional que não reflita uma intenção clara e objetiva de tratar o espaço de transmissão de mensagens como uma ferramenta importante para difusão ideológica.

Filmes, livros e personagens deixaram de ser ficção quando suas histórias foram colocadas em paralelo com a realidade que, quase como irmã gêmea, se mostra em sua face mais temível e poderosa.

Nesse sentido, os espaços de ficção e realidade se fundiram, dando a cada indivíduo, em sua própria condição, a possibilidade de lançar um olhar menos ingênuo com relação à produção midiática.

Avaliação 3: Blogs

As minhas opiniões sobre os blogs, como função, já foram expostas. Apenas farei um breve comentário sobre essa ferramenta usada pelo Prof. Dimas como método de avaliação.

É pertinente a idéia de deixar livre a produção do trabalho ocorrer ao longo do curso, devido ao tempo que, em nosso tempo, anda escasso. A regra de postarmos um texto próprio toda semana, confesso ser meio pesada, mas, a quem se propõe a tarefa de pesquisador, essa lição é menos dolorosa que outras tantas.

Deixo aqui minhas reflexões a fim de, como a própria missão de meu blog, interagir e discutir sobre os fenômenos midiáticos. Pretendo continuar utilizando-o como um espaço, ainda que organizado por mim e sem fugir de sua missão, de reflexões e pensamentos livres.

Ensaio sobre a Cegueira: Uma análise do uso excessivo do “branco” na fotografia

O branco que traz a paz, que conforta e que eleva é o mesmo
que te coloca na angústia e na escuridão das
reflexões mais profundas e, antes, inconcebíveis.

Esta análise se apoiará na semiologia para tentar explicar o elemento “branco” utilizado na fotografia do filme Ensaio sobre a Cegueira.

Ainda que as sensações não necessariamente se refletem em todos os espectadores da mesma forma, visto que as mediações acontecem cada qual com seu próprio indivíduo, podendo eu, inclusive, fazer parte desse processo, tentarei defender que o uso desse elemento contribuiu de forma decisiva para o resultado final da obra.

A história é forte o suficiente para desarrumar qualquer um. Não é possível não sentir um desconforto ao se deparar com essa obra. O motivo de todo o caos é a “Cegueira Branca” que atinge a todos. No filme, esse enredo ganha um reforço que considero importante, por exemplo, para que o espectador não fuja de sentir a mesma sensação que os personagens. Arrisco dizer que, apesar de as duas formas (livro e filme) serem abertas para diferentes mediações, no filme é possível perceber um condicionamento da sensação do espectador.

Esse condicionamento acontece de forma contrária ao que imaginamos ser a deficiência visual. É de consenso que ao ficarmos cego nos imaginamos na escuridão, no negro. Essa sensação é diariamente percebida ao fecharmos os olhos. A cor preta indica na maioria das vezes uma atitude negativa muitas vezes ligada à noite e morte e de forma afetiva à depressão.

Porém, acontece no filme o uso de imagens com saturação do branco e em alguns momentos num branco total. Há aqui uma quebra de paradigma muito forte, pois o branco em nossa sociedade não é visto como uma cor que causa essa angústia de nos tornarmos cegos. O branco é comunhão e casamento; possui também uma ligação com a pureza e religiosidade.

Com base em teorias que se ocupam de explicar as relações do ser humano com as cores em seus processos psicológicos ou fisiológicos, faço uma menção ao que alguns teóricos formularam sobre as cores: assim como o preto, o branco seria a ausência ou não de luz, não existindo, portanto, como cor. Todos nós já passamos pela experiência de nos sentirmos momentaneamente cegos, ao sairmos de um lugar intensamente iluminado e passarmos para outro totalmente escuro. Sabemos que, depois de certo tempo, começamos a perceber fracamente os objetos. Temos até a impressão de que eles estão sendo gradualmente iluminados. (1)

O filme é genial nesse ponto porque joga para longe a percepção que temos do branco, nos causa uma nova sensação retirando a referência que tínhamos. Há uma cena em que uma personagem está olhando para o céu em uma parte da imagem toda branca; ela, nesse momento, fica aflita achando que também tinha contraído a doença. No entanto, ao baixar a visão percebe que não estava cega e se alivia ao perceber que enxerga, ainda que um mundo destruído em todas as suas concepções atuais.

Essa quebra de referenciais nos faz deslocar ainda mais a atenção para a discussão principal do filme. Fazendo um paralelo com o que Charles S. Pierce formulou para se obter um conhecimento implícito de algo, o filme nos leva à condição primária de receber novos signos à medida que desfaz todos os outros formulados e aceitos pela nossa sociedade. A fase de primeiridade aparece quase sozinha na obra, desfazendo o processo contínuo de recepção e “aprendizado” de signos.

A todo instante, deparamo-nos com quebras sucessivas de concepções das mais diversas formas. Do ponto de vista de uma análise semiológica, o uso excessivo, porém pertinente do branco reforça o propósito da obra original que é sobretudo uma crítica social.

(1) Trecho retirado do livro: Farina, Modesto. Psicodinâmica das Cores em Comunicação. 4ª edição, 1990 e 7ª reimpressão, 2005. Usado também como consulta em outros momentos dessa análise.