António Damásio ilustra o fato de que as emoções são indispensáveis para a nossa vida racional e brinca com o título propondo que tudo que se produziu acerca das experiências de Descartes pode se dizer que foi um erro.
“São as emoções que nos fazem únicos, e é o nosso comportamento emocional que nos diferencia uns dos outros.”
Seria essa a explicação para o fenômeno do surgimento de grupos que se propõem a serem diferentes, mas internamente continuam sendo iguais entre si? O que existe na verdade é uma única individualidade coletiva que move a todos.
“Foi Descartes que possibilitou ao homem chegar à lua, mas também levou à fragmentação característica das especializações nos nossos meios acadêmicos e no pensamento em geral.”
Descartes ao revelar o método científico expôs, na verdade, a nossa forma de pensar, de estruturar e de lidar com o mundo. Ele não consideraria a emoção na produção científica por que ela seria a esteira que conduziria o modo como empregaríamos esse fazer científico.
Tenho sérias dúvidas se chegar à lua foi algo extraordinário para a humanidade. Chegamos até a pensar que iríamos trabalhar menos com a chegada do computador. O homem, de posse da ciência e tecnologia construiu mecanismos de destruição em massa e, não se esqueçam que antes da vacina, criamos a doença. Não foram essas, e há outros exemplos, as melhores formas de utilizarmos o que Descartes propôs. Consideramos que parte do cérebro para construirmos um mundo completamente desequilibrado de todos os pontos de vista?
Quanto à fragmentação das especializações nos nossos meios acadêmicos confesso que não compreendo o que Damásio quer dizer com nossos meios acadêmicos, visto que esse é um espaço completamente distante da maioria. Porém, concordo com ele que há algum problema nisso, mas acho que ele decorre da nossa necessidade, que não mora na razão, de agregarmos saberes que antes nunca haviam sequer sido colocados em paralelo e, muito menos numa mesma disciplina. Parece-me que é nesse caminho que mora a idéia de um saber líquido e disforme, na tentativa de alcançarmos uma posição privilegiada em relação a uma audiência maior.
Acho também que vivemos num mundo essencialmente de práticas em que o produzir não deixa tempo para teorizações. Por isso, há uma necessidade sufocante no mercado de trabalho de interrelacionar disciplinas, criando outras tantas.